"Bem hoje que minha mãe veio me ver!"

“Mas vocês vieram bem hoje que minha mãe veio me ver?” Foi assim que terminou uma das nossas visitas ao abrigo, coincidiu que o dia das palhaças visitarem o abrigo era o mesmo da visita de uma mãe. 

Existem vários motivos pelos quais uma criança é retirada do poder familiar e o estado passa a ser seu responsável, existem tantas razões que não nos cabe julgar, e naquele dia, da nossa visita, tinha também uma mãe visitando sua criança, e uma criança muito feliz em ver a mãe e ao mesmo tempo triste pelo choque de horários.

A criança em sua inocência nos convidou gentilmente a entrar na sala de visitas, e nós gentilmente achamos uma desculpa para não comparecer naquele encontro. Nos afastamos por sabermos que ali não éramos a atração, não era o momento, aquele era um momento da mãe com a sua criança. 

Saber sair de cena, como e quando sair de cena é tão importante quanto saber o que fazer em cena. 

Tem momentos que mexem com a gente, esse foi um deles, e que levantou uma pergunta da qual não vou ter resposta, até porque não me cabe ter a resposta, mas que sempre vai estar ali repetindo: O que aconteceu com aquela família? Será que eles estão juntos?

Eu nunca vou saber, pois não cabe a mim saber, o que eu sei é que tem horas que a gente precisa juntar a nossa vontade de jogar, de fazer graça, guardar em uma malinha e sair de cena, porque não é sobre você, sua arte ou seu ego, é sobre o outro. 

Que bom a palhaçaria me permite encontrar e vivenciar o outro, e tornar minha arte viva. 

Texto de Gabrielle Heinz - Palhaça Magnólia, sobre a sua experiência visitando o Abrigo Municipal de Chapecó.


ALEGRIA É REMÉDIO 
Projeto selecionado pelo Edital Aldir Blanc 2021 - executado com recursos do Governo Federal e Lei Aldir Blanc de Emergência Cultural, por meio da Fundação Catarinense de Cultura.

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