Que palco é esse?

 

Gabrielle Heinz - Palhaça Magnólia

 

Eu nunca sonhei em ser palhaça de hospital, até porque nem sabia o que era ser palhaça em um hospital, para falar a verdade nem sequer sonhava em ser palhaça. Foi na faculdade que descobri a linguagem, decidi estudar sobre e por consequência virei palhaça, ainda que não soubesse exatamente com o que iria trabalhar sabia que ia ser na palhaçaria, até que numa tarde chuvosa meu caminho cruzou com um tal projeto de Chapecó, os Doutores RiSonhos.

A primeira vez que ouvi falar do projeto foi em um evento de palhaçaria, fiquei encantada ao descobrir que na cidade ao lado da minha existia um grupo de profissionais que trabalhavam no hospital, e que sorte, pouco tempo depois eles abriram um processo seletivo, era a minha chance de entrar para o projeto. Como você pode imaginar deu certo, senão eu não estaria escrevendo esse texto, deu certo entrar para o projeto, e durante o percurso muita coisa deu certo e várias outras deram errado também, porque o hospital não é palco, pelo menos não do jeito convencional.

A gente se prepara, ensaia cenas, jogos, abordagens e às vezes tudo isso vai por água abaixo. Você chega no quarto e o paciente não quer interagir, tenta apresentar uma cena na sala de espera, mas o barulho e o movimento são tão intensos que o tempo da piada se perde. Ainda que a linguagem do palhaço seja rica em improvisação, no hospital isso se multiplica por mil, não existe um palco delimitando o nosso espaço e o do público, é tudo junto! E temos que ficar em uma eterna dança equilibrando entre fazer o nosso trabalho, mas sem atrapalhar a funcionalidade daquele lugar, saber chamar atenção e também ser discreto.

Nesse palco hospitalar em que tudo muda a todo instante, é extremamente necessário ser gentil consigo mesmo, pois damos o nosso melhor, e nem sempre as coisas saem como o planejado. Esse palco é diferente, não só porque não há coxias, luzes e sonoplasta, mas porque o público é diferente, porque o nosso encontro é diferente, é único e se dá em momentos de muita dor e angústia. O palco muda, o jeito dos palhaços e das palhaças muda, o público muda, mas uma coisa permanece, a potência do encontro, a arte acontecendo nas adversidades.

Fotos de Suzi Gobbi.


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